Lia - O que ela tem que eu não tenho?
Sempre pensei no amor de Jacó e Raquel como um dos mais
bonitos da Bíblia. Lia sempre ficava em segundo plano. Até que semana passada
ouvi o fim da pregação de um pastor do qual eu não lembro o nome, nem mesmo o
rosto, e percebi que este pastor destacava Lia em lugar de Raquel. Me pus, então, a ler o
texto mais uma vez.
Sim, Jacó se apaixonou por Raquel. A Bíblia diz que ela
tinha belo porte e boa aparência. Quanto a Lia, a característica descrita é “olhos
ternos”. Ternura. Seria possível revelar ternura no olhar, sem abrigá-la antes
no coração? A historia se desenvolve, e Lia está no primeiro plano apenas para
seu pai, em virtude de um costume. Ao perceber que foi enganado, Jacó não
disfarça sua decepção por estar casado com a mulher errada. Uma semana depois,
a plenitude da felicidade: Raquel. Uma semana que lhe rendeu mais sete anos de
serviço ao sogro. Catorze anos por uma mulher, ao todo. Que lindo! A essa
altura, quem se lembra dos olhos ternos? Quem se importa com ternura depois de
conhecer uma bela aparência completa, que causa uma paixão avassaladora como a
de Jacó? Deus se lembra. E Ele se importa.
Você já observou a relação de Lia com Deus? Ele viu
que ela não era amada, e quis alegrar seu coração com filhos, que era tudo de
que uma mulher precisava para ser honrada naquela cultura. Do primeiro ao
último filho de Lia, o que se revela é o favor de Deus, e a gratidão de uma
mulher esperançosa. E quanto a Raquel? Tornou-se invejosa. De sua boa aparência
restou a reclamação: “Vou morrer se não tiver o que eu quero!” Da reclamação, o
conflito do marido apaixonado: “Estou por acaso no lugar de Deus?” Do
conflito, a solução improvisada: “Tenha filhos com minha serva, e eles serão
meus”. Depois, o Senhor se lembrou dela, dando-lhe um filho do seu próprio
ventre, e sua expressão foi: “Quero outro!” E quando teve o outro, disse: “Que
dor esta criança me trouxe”.
Raquel tinha tudo para ser a portadora da ternura. Ela era
amada pelo homem a quem amava! Demorou, mas Deus deu a ela os filhos que sempre
quis. O que mais ela podia desejar? Do que mais ela precisava para ser grata? Ela buscava ser mais evidente do que sua irmã. Hoje eu vi Raquel como a
menina mimada que sempre se destaca, porém não pelo que seus olhos dizem. Ela não
estava acostumada a estar em posição inferior. Sua bela aparência escondia um
interior despreparado. O que será que diziam os olhos de Raquel? Os olhos de
Lia mostravam que ela era meiga e afetuosa. Ela podia se lamentar e dizer "O que Raquel tem que eu não tenho?!", mas suas atitudes diante das
circunstancias revelam que ela nunca deixou de querer o amor do marido, mas também
nunca deixou de reconhecer a bondade de Deus em sua vida.
O amor de Jacó por Raquel é sim muito bonito e inspirador. Mas
o que você acha de alguém que não alcança um objetivo, e ainda assim confessa: “Desta
vez, eu darei glória a Deus”? A rejeição sofrida por Lia se desdobrou em
esperança e fidelidade. E quanto a você? No que tem resultado as suas
frustrações?
Tenho sido constantemente convidada a perceber a mão de Deus
agindo nos detalhes mais variados da minha vida. Acredito que todos temos
frustrações, assim como a primeira esposa de Jacó, que jamais conseguiu ser
amada como merecia. E pode ser que o seu problema não esteja ligado a isso,
nossa vida não se resume a relacionamentos. Mas, independente da área, pense:
Para onde foi sua gratidão e sua esperança? A felicidade não consiste em ter todos os desejos prontamente atendidos, mas sim em perceber em cada detalhe
o que Lia percebeu desde o início: “Deus viu”. Ele vê. Deus está vendo!
*Gn 29,15+; 30,1-22; 35,16-20

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