Campo Grande

A minha mente me leva pra Campo Grande diversas vezes ao dia, e à noite também. A imagem das ruas, das padarias, dos sinais, das clínicas da família, das casas, dos cachorros, aparecem coloridas e realistas, quando estou fazendo coisas que não tem absolutamente a ver com aquele bairro. Mas, falando a verdade, o que não tem a ver com aquele bairro pra mim? Nunca morei ali de fato, mas já passei muitos momentos da minha vida lá. E fui feliz na maioria deles. Eu já fui pra lá por estar triste, já fui pra lá por estar feliz, já fui por estar sem água na minha casa, por estar entediada, pra celebrar aniversários, dias das mães, dias dos pais, natais, churrascos sem razão, pra comer peixe, bobós ou risotos de camarão. Já fui pra comer miojo, amendoim, salada de xuxu com cenoura, pudim. Já fui pra Campo Grande só pra matar a saudade. Agora eu vou lá, e a saudade aumenta. 

Porque nunca foi o lugar que me abraçou. Quem me abraçava era ela. Eu ainda não entendi essa fase. E que vontade de chorar ao pensar e viver uma fase sem ela. Estamos vivendo um recomeço que nunca quisemos. Doloroso, inacreditável, cansativo, desafiador. Não me dá vontade de encarar. Mas a vida (que ironia) não dá escolha. Acordar no dia seguinte e ver que o mundo continua igual, mesmo que o meu mundo tenha mudado para sempre, é tão estranho. É um ponto de interrogação que a realidade tenta chamar de ponto final. 

Mas eu não quero acabar. Estou cansada, e detesto a ideia de ressignificar. Não gosto das palavras que dizem, não gosto dos consolos automáticos, não me vejo vivendo momentos felizes sem essa saudade que sinto todos os dias no fundo do meu olhar. Mas mesmo assim, eu não quero acabar. Campo Grande tem razões que me fazem amar e tentar abrir o coração pra o tal do ressignificar. Tudo o que eu vivi lá com quem me abraçava me lembra que o amor e a dedicação valem a pena. É tão triste quando a gente perde, mas é tão fundamental enquanto a gente tem. Sou feliz por ter tido. E sou feliz pelo que ainda tenho.